Ovinocultura alagoana é desvendada

Cresce demanda pela carne de cordeiro, produtores começam a se profissionalizar e investidores sondam esse mercado
Ovinocultura alagoana é desvendada

Para comemorar a derrocada das barreiras sanitárias contra febre aftosa em toda a região Nordeste, a Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper) levará sua exposição nacional para Salvador, na Bahia. E com o apoio de seus “delegados” espalhados pela região, tenta expor peculiaridades e iniciativas que, de alguma maneira, contribuam com a organização da cadeia produtiva da ovinocultura.

Este projeto, que já passou por Pernambuco e Ceará, chega agora em Alagoas, com o apoio do presidente de núcleo Fernando Vieira Chaves Filho, titular da Dorper Boa Vontade, em Coruripe (AL), onde desenvolve um programa de seleção genética com mais de 400 ovinos Dorper e White Dorper, raças de origem sul-africana que ajudaram a constituir um padrão de qualidade à carne de cordeiro nacional. Parte das informações foram disponibilizadas pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri-AL).

Existem no estado cerca de 12 mil propriedades rurais, cerca de 40% são de pequeno porte, com extensão de 1 a 5 hectares, com menos de 50 animais.  Juntas, reúnem cerca 204 mil ovinos de raças deslanadas ou semideslanadas. As maiores populações estão em Mata Grande, São José da Tapera, Canapi, Delmiro Gouveia, Senador Rui Palmeira e Pão de Açúcar. Pela representatividade, são regiões que atraem programas de incentivo, como o “Programa Mais Ovinos”, que ajudou a aumentar o rebanho em mais de 10 mil animais, e ações do “Arranjo Produtivo Local de Caprinos e Ovinos”, que, entre outros benefícios, articula o financiamento de matrizes e reprodutores.

Seja em pastagem nativa ou plantada, o manejo básico do rebanho alagoano ocorre em regime extensivo. Quem tem um pouquinho mais de capital investe no sistema semi-intensivo, suplementando a nutrição com culturas locais (milho, mandioca…), além de concentrado comercial e sal mineral. Em relação a sanidade, é latente a preocupação em vermifugar e vacinar o plantel contra clostridioses, raiva e leptospirose, mas este programa não segue um cronograma definido. “Temos criadores e produtores de todos os tipos, desde aqueles que investem com o intuito de agregar maior valor comercial à carne até os criadores que comercializam animais registrados ou ainda aqueles que mantêm poucos animais para vender quando precisam de dinheiro”, diz Fernando, que também é diretor da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Alagoas.

Essa última situação, na verdade, é mais comum do que se imagina. O progresso parece não ter acompanhado a verticalização da ovinocultura para a carne de cordeiro na mesma velocidade. Volume suficiente de cordeiros é raridade mesmo em regiões onde o consumo é mais elitizado. Um pequeno estímulo por parte do produtor fez o produto cordeiro cair no gosto do consumidor. Como consequência, nunca antes experimentaram preços tão atraentes. “Hoje, o quilo do cordeiro está cotado varia de R$ 14 a R$ 18 aqui em Alagoas”, avalia Fernando.

Sem produção suficiente, o produto nacional sofre com a concorrência desleal da conhecida “carne de moita” (clandestina) ou da importação de países como o Uruguai. Entretanto, para analistas, essa é uma realidade com os dias contados.

Solução pode estar em Arapiraca – A resposta para os problemas da cadeia produtiva da ovinocultura no estado poderia estar na inauguração de um novo frigorífico em Arapiraca, credenciado pelo Serviço de Inspeção Estadual (SIE). Rumores sobre o lançamento da planta neste município agitam os produtores há meses, o que pode ocorrer no início de 2015. Alguns, inclusive disseram tê-la visitado e que apenas aguarda liberação para iniciar suas operações. A diretoria deste estabelecimento foi procurada, mas não desejam se pronunciar até o lançamento.

Abate terceirizado e carne de marca própria – Na certeza dessa inauguração, alguns produtores já mobilizam projetos para conseguir melhor rentabilidade. Em Rio Lago, AL, Sidney de Almeida, dono da LCB Ovinos, trabalha com seleção genética das raças Dorper e White Dorper e conta os dias para o lançamento do frigorífico. Ele comercializa matrizes para quem deseja iniciar na ovinocultura “pela parte de cima da prateleira” e carneiros registrados, para que os produtores de carne consigam suprir carências no rebanho local.  “Precisamos trabalhar a mentalidade do produtor, que está habituado em usar carneiros mestiços de produção duvidosa para desempenhar papel de reprodutor.  Poucos se dão conta de que o investimento de R$ 2,5 mil, em média, em um carneiro Dorper, reconhecido por sua produtividade, é facilmente diluído nos ganhos em heterose, entre eles, a precocidade, o rendimento de carcaça e a qualidade da carne. Essas são as características que compõem o produto desejado pelo moderno consumidor”, afirma.

Contornando essa “barreira cultural”, ele está diversificando seu negócio, investindo também no segmento da carne. Recentemente, adquiriu uma pequena propriedade para alocar seu rebanho comercial e produzir cordeiros a partir de matrizes Santa Inês e reprodutores Dorper.  A expectativa é terceirizar o abate no novo frigorífico e comercializar cortes especiais em uma boutique própria, além de atender outros estabelecimentos. “A procura em Maceió é muito grande e nós estamos localizados em um ponto estratégico: pertinho do aeroporto, na BR 104. As carcaças serão beneficiadas em instalações próprias, com sala de processamento de carnes e câmara fria com capacidade de armazenamento para 50 carcaças”, diz Sidney.

O abate no Frigovale permitiria a comercialização da carne em qualquer ponto de venda no estado.  Para ter produto de qualidade em constante, ele pretende desenvolver parcerias com outros produtores. A LCB fornecerá carneiros Dorper para receber seu preço em quilo de cordeiro produzido, cotado atualmente a R$ 14.  A empresa também vai oferecer garantia de compra de toda mercadoria, com pagamento à vista. A expectativa é processar cerca de 400 quilos de carcaça por semana.

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