Primeiros grãos de soja transgênica chegaram ao Brasil de forma ilegal na década de 90

Primeiros grãos de soja transgênica chegaram ao Brasil de forma ilegal na década de 90

Nos anos 90, uma nova forma de produção se apresentava para os produtores rurais de todo o Brasil. Nessa década chegaram ao país as primeiras sementes de soja transgênica. O Estado do Rio Grande do Sul, por onde o grão entrava de forma ilegal, contrabandeado principalmente pelo Uruguai e Argentina, foi protagonista dessa novidade na época.

– Agricultores gaúchos visitaram a Argentina e conheceram a soja transgênica lá cultivada e entenderam como era mais barato em função do número de pulverizações, o que reduzia custo de água, diesel e dos defensivos agrícolas, e trouxeram para o Brasil sementes transgênicas sem permissão do governo brasileiro – explica o ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues.

O grão, com resistência a herbicidas, rapidamente se espalhou pelas lavouras do Rio Grande do Sul e ganhou espaço significativo na cultura da região. Na mesma medida, as discussões entre os que apontavam os perigos e os benefícios dos transgênicos se tornaram acirradas.

– Isso provocou reação dos órgãos de defesa do consumidor que entraram na Justiça e conseguiram a proibição do plantio dessa soja transgênica que vinha da Argentina, chamada naquela época de soja maradona, porque era contrabandeada. Isso foi crescendo ilegalmente até que assumi, em janeiro de 2003, o Ministério da Agricultura e havia naquela época 12% de área brasileira transgênica, sendo que grande maioria era no Rio Grande do Sul, um pouco no Paraná e Mato Grosso do Sul – conta Rodrigues.

Próximo ao início da colheita da safra 2002/2003, houve uma forte pressão dos representantes dos agricultores para que a comercialização do produto fosse regulamentada. Almir Rebelo, produtor rural de Tupanciretã, no noroeste do Rio Grande do Sul, foi um desses produtores. Ele viveu intensamente a agonia em tentar provar que a soja transgênica traria desenvolvimento para o Brasil.

–  Jamais nós imaginamos que iríamos defender o desenvolvimento brasileiro com polícia, com Justiça. No momento que discutimos a biotecnologia,  apesar de usarmos a soja em uma forma não legalizada, nosso objetivo era legalizar, porque esse era o caminho – conta Rebelo como ocorreram as discussões realizadas no ano 2000.

Há quatorze anos, a cidade de Tupanciretã foi palco de um dos momentos mais tensos de toda a polêmica dos transgênicos. Foi quando fiscais agropecuários foram à região averiguar as lavouras. Os produtores rurais que tivessem plantado a soja geneticamente modificada sofreriam graves consequências: perderiam suas terras, teriam suas lavouras destruídas e poderiam até mesmo ser presos.

– Os fiscais ficaram hospedados nas dependências da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (Fepagro) e só podiam sair por aqui. Nós entendemos estrategicamente que, eles não saindo de carro, não cumpririam a missão de fiscalizar. De repente, nós produtores, nos assustamos com a presença de fiscais e da ideia de ser preso ou ter a produção queimada. Foi dito que éramos criminosos, que destruíamos o meio ambiente, mas nada disso era verdade. Então montamos uma estratégia em cima do que já estávamos fazendo, trabalhando com produção auto-sustentável – explica Almir Rebelo.

Até que o tema se tornasse um debate social, durante anos os produtores rurais sofreram a iminência da prisão. Muitos foram indiciados, responderam a processos judiciais e cumpriram penas.

– Sempre que nós temos uma coisa nova, as controvérsias aparecem no sentido de entendimento de uma novidade. A biotecnologia carrega uma série de informações que são técnicas. A maioria das pessoas muitas vezes desconhecem que a liberação de um transgênico passa por todo um processo de análise criteriosa e muito exagerada, muitas vezes, porque é uma tecnologia bastante testada em laboratório previamente. São características biológicas, são conhecidas. As controvérsias tem relação com aspectos que são biológicos e com desconhecimento – conta Adriana Brondani, do Conselho de Informações sobre Biotecnologia.

A vistoria em propriedades por técnicos da Secretária da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul e a presença da Polícia Federal se tornaram situações comuns. Mesmo assim, os produtores rurais continuaram a utilizar a soja transgênica, por causa da eficiência nunca antes observada nas lavouras.

– A nossa divisa com a Argentina é o rio Uruguai. Essa fronteira é aberta. Nós sabíamos o que era a soja transgênica, sabíamos o que trazia para os argentinos e o que faria pra nós aqui. E não tínhamos nenhuma dúvida disso. Nós não tínhamos nenhum temor de nada, com relação a questão ambiental, da segurança de alimentação, nada disso – explica o produtor, Almir Rebelo.

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Edivaldo Junior

Edivaldo Junior

Edivaldo Junior é jornalista, colunista da Gazeta de Alagoas e editor do caderno Gazeta Rural

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