Alta de preços do feijão em cidades brasileiras reflete cenário especulativo

Alta de preços do feijão em cidades brasileiras reflete cenário especulativo

Os preços recordes alcançados pelo feijão, com mais de R$ 10 reais o quilo do grão carioca para o consumidor em algumas cidades brasileiras, marca um movimento especulativo. Essa é a análise do pesquisador da área de Sócioeconomia, Alcido Elenor Wander, que é chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO).

Na contramão de outras abordagens, que geralmente atribuem à alta de preços exclusivamente a problemas climáticos ocorridos na primeira e segunda safra deste ano, Wander considera que há outro elemento que está contribuindo para a disparada de valores do grão.

“Estamos com uma produção menor que o consumo há 2 anos consecutivos”, acentuou o sócioeconomista. A demanda interna brasileira por feijões é de cerca de 3,3 milhões de toneladas por ano. Em 2014/2015, foram 200 mil toneladas abaixo disso e, em 2015/2016, 120 mil toneladas. “Temos um déficit acumulado em torno de 300 mil toneladas”.

Esse cenário coloca o abastecimento em situação desfavorável e essa condição fomenta as especulações de mercado que refletem sobre o aumento dos preços atuais. Por exemplo, no caso do feijão carioca, Wander aponta que, no Estado de São Paulo, os preços pagos ao produtor e praticados no atacado apresentam ligeira queda desde fevereiro. Nota-se, no entanto, que esta queda de preços não foi repassada ao consumidor (varejo), que continuou com preços subindo até maio.

Para o sócioeconomista, o problema climático com o El Niño neste ano afetou, de fato, as regiões Sul (72 mil toneladas em perdas) e Centro-Oeste (107 mil toneladas em perdas). Porém, essas quedas na produção foram compensadas pelo aumento da produção em outras regiões: Sudeste (mais 54 mil toneladas), Nordeste (mais 207 mil toneladas) e Norte (mais 5 mil toneladas).

Safra de inverno
De acordo com Wander, há expectativa de que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda diminua um pouco com o cultivo da terceira safra, ou safra de inverno, realizada entre maio e setembro no Planalto Central Brasileiro. Porém, o impacto não será tão expressivo, devido à observação de vazio sanitário para essa região, por causa do problema com a mosca branca (inseto que transmite o vírus do mosaico dourado do feijoeiro).

Em que pesem essas ponderações, o sócioeconomista acredita que a atual alta de preços terá caráter passageiro e haverá estabilização. Para ele, se houver substituição do grão no prato do brasileiro, ela será transitória, pois nos últimos dez anos a produção e o consumo da leguminosa vêm se mantendo estável no país. “A combinação do arroz com feijão, distintiva na culinária nacional, deve prevalecer sobre eventuais oscilações econômicas”.

Embrapa

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Redação

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