Parcerias entre produtores do Litoral e Sertão marcam Dia do Apicultor em AL

Parcerias entre produtores do Litoral e Sertão marcam Dia do Apicultor em AL

Diante de uma seca verde, sem flores suficientes para promover o desenvolvimento das colmeias, apicultores de Santana do Ipanema tiveram que tomar uma iniciativa: migraram algumas caixas da sua criação para um apiário em Marechal Deodoro, de forma a aproveitar a florada litorânea e fortalecer suas abelhas. As primeiras caixas foram realocadas em setembro de 2015, e começaram a ‘voltar para casa’ no final de abril de 2016, a tempo de celebrarem o Dia do Apicultor, em 22 de maio, com sucesso de produção e de integração entre os produtores das regiões.

A migração de apiários não é algo novo. Já acontecia no Egito, quando os produtores enchiam os barcos e desciam o Vale do Nilo aproveitando as diferentes floradas. No Brasil, é muito comum entre produtores da Região Sul e do estado do Piauí. Em Alagoas, a iniciativa não é de todo inédita: foi aplicada há oito anos, movendo colmeias do Litoral para o Sertão durante o inverno. O diferencial dessa migração é ser uma operação de ‘produtor com produtor’, feita para unir e desenvolver os apicultores do estado e, consequentemente, a produção local de mel e derivados.

A ideia surgiu da aproximação entre os apicultores do Litoral e do Sertão durante um seminário em Ilhéus, na Bahia, no ano passado, para onde foram por incentivo do Sebrae em Alagoas. Os produtores se conheceram, conversaram, dividiram suas preocupações sobre um negócio no qual é a natureza quem manda e decidiram dar uma chance à migração dos apiários, para manter a saúde dos enxames e não perder produção devido à seca.

“Temos 31 apicultores na cooperativa e oito deles mandaram suas caixas para Marechal nessa experiência. A intenção era, mesmo que não colhêssemos mel, de não perder enxame e manter a população estabilizada e sadia. Está valendo muito a pena, melhor do que o esperado. Queremos fechar todos os números direitinho, formalizar um relatório e construir como um projeto modelo”, conta Maurício Alécio, membro da Cooperativa dos Criadores de Pequenos Animais de Santana do Ipanema (Copasil) e presidente da Câmara Setorial de Apicultura, que defende as demandas da Cadeia Produtiva do Mel em Alagoas.

Das 50 caixas que foram para Marechal em 2015, em três viagens nos carros dos próprios apicultores, 60 voltaram a Santana, com 38 delas produzindo 600 quilos de mel – na ida, apenas 17 produziam. A volta ao Sertão foi feita em 27 de abril de 2016, no caminhão da Copasil, que atuou na logística e apoio aos apicultores durante a migração.

“Não sei se era a hora certa de voltar para o Sertão, porque a chuva não começou ainda, mas estamos satisfeitos, sim. Tem caixas ainda em Marechal Deodoro e no Pilar, eu mesmo tenho caixas em Jequiá da Praia também, com um amigo que cedeu o espaço. A migração começou porque conhecemos o pessoal de Marechal e começamos a conversar, e isso não teria acontecido sem o Sebrae, que facilitou a participação no seminário. É esse o trabalho do Sebrae, aproximar o público dos mesmos segmentos”, completa o apicultor de Santana do Ipanema.

Desenvolvimento da base

A intenção de Maurício Alécio é que essa experiência com a migração de apiários seja uma referência para os demais apicultores do estado, com procedimentos estruturados, cuidados e ganhos documentados e ações coordenadas entre as floradas do Sertão e Litoral, para não enfrentar entressafras. A tese é defendida por Manuela Varanda, apicultora que recebeu e cuidou das caixas sertanejas em Marechal.

“Temos que produzir e fazer o negócio rodar. Essa união vem de baixo, como algo próprio da categoria da apicultura, para fortalecer o pequeno produtor, que está totalmente fragmentado no estado. Isso é um trabalho de três anos, para que as colmeias possam produzir no Sertão e no Litoral, cada uma na sua época”, pontua Manuela.

Ela conta que os apicultores sertanejos, antes, perdiam até 80% de suas abelhas durante o período da seca, e recomeçavam tudo na florada seguinte. Com a migração para o Litoral, Manuela trabalhou o fortalecimento das abelhas em três etapas: cera, manejo e rainha.

“A cera é a assepsia, a limpeza e o serviço de saúde da colmeia. O manejo é a migração em si, entender a flora do local e a alimentação do enxame. A rainha é a abelha rainha, que melhora o material genético. Tudo isso fortalece a colmeia e aumenta a produção, que é o nosso grande objetivo, em um projeto para aplicar a nível estadual”, comenta a apicultora.

No que depender do Sebrae em Alagoas e dos Arranjos Produtivos Locais (APL) Apicultura no Sertão e no Litoral e Lagoas, o projeto terá vida longa. “Essa é uma prática que existe no Sul. O Sebrae aproximou esses apicultores durante um seminário e agora eles estão conduzindo a experiência, que é uma inovação na produção de Alagoas, e tiveram bons resultados, com as abelhas voltando fortalecidas para o Sertão”, informou Jacqueliny Martins, analista da Unidade de Agronegócios (UAGRO) do Sebrae em Alagoas.

Jacqueliny acredita que a troca de experiências pode continuar no Seminário Alagoano de Apicultura e Meliponicultura, que será realizado no estado durante o segundo semestre deste ano.

Assessoria

Author Description

Redação

Sem Comentários ainda.

Participe do debate