Um dia para ser lembrado

Um dia para ser lembrado

A história ainda está sendo escrita e reescrita. O impeachment do jeito que foi feito contra Fernando Collor em 1992 e corre, agora, contra Dilma Rousseff, consolidou-se como um processo político – e não jurídico.

Collor foi inocentado das acusações por falta de provas. Dilma, ainda terá seu destino selado nos próximos meses. Até o momento não existe a mais pífia prova ou indício de crime de responsabilidade (dentro do previsto na Constituição de 1988).

Os argumentos mais fortes usados, também no Senado nesta quinta-feira, 12, para justificar o afastamento da presidente são os mesmos da Câmara Federal: impopularidade, crise econômica, desemprego etc.

O que está em jogo, de fato, é uma queda de braços entre poderes e a sobrevivência de um regime político que ganhou nos últimos dias o batismo de “presidencialismo de coalizão”.

O povo foi usado como desculpa para a troca de presidentes. Michel Temer, no entanto, assume sob a marca da conspiração, sem popularidade, sem aprovação popular e faz do governo o mesmo balcão de negócios que imperou no governo de Dilma Rousseff.

Insatisfeitos, muitos brasileiros foram às ruas pedir a volta da ditadura. A maioria dos manifestantes contra o governo do PT se limitou (ainda bem) a defender o impeachment, com a esperança de que a troca de comando resulte em mudanças que melhorem a economia e os serviços públicos.

O presidente terá poucas semanas para mostrar a que veio. Mas já se sabe que fará um governo conservador, com cortes que devem afetar num primeiro momento os investimentos sociais e trabalhadores em benefício do setor empresarial.

De novo a reforma política está na pauta do dia. E com ela, novas tentativas de mexer nos direitos dos trabalhadores, da Previdência etc. E que ninguém se surpreenda se tais medidas, restritivas de direitos, forem aprovadas.

O mesmo Congresso Nacional, de perfil conservador, que conseguiu dois terços dos votos para afastar a presidente poderia ter decidido com o mesmo quorum convocar eleições gerais ou antecipar as eleições presidenciais. Não o fez nem o fará porque falta sintonia com as ruas.

O que se viu depois da votação do impeachment, no dia 17 de abril, na Câmara Federal foi uma briga por cargos e espaços no governo. O balcão de negócios se repetiu no Senado nos dias que antecederam a votação.

A maioria dos partidos, deputados e senadores – repito aqui o que disse outro dia – agiu movida por interesses próprios e não por interesse do Brasil e dos brasileiros.

Esse dia (ou esses dias) será lembrado na história. Resta saber como serão lembrados os protagonistas: se como golpistas ou salvadores da pátria.

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EJ

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Redação

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