Revista Graciliano aborda produção artística em Alagoas e no Brasil durante a ditadura

Revista Graciliano aborda produção artística em Alagoas e no Brasil durante a ditadura

A ditadura militar acabou oficialmente há 30 anos no Brasil. Um dos períodos mais dolorosos da nossa história política e social também afetou a movimentação artístico-cultural nos quatro cantos do país. Em sua nova edição, a Graciliano, produzida pela editora da Imprensa Oficial de Alagoas, aborda o tema sem medo da mordaça. A publicação apresenta um recorte da produção artística – local e nacional – durante o período de censura e repressão que assolou a nação entre 1964 e 1985.

Com reportagens, artigos, entrevistas e um ensaio visual com obras que provocaram a ira dos censores, o novo número busca refletir sobre como o clima de repressão atiçou a criatividade de artistas de diversos segmentos e traduziu-se em manifestações deliberadas de resistência: a música popular como música de protesto; nos palcos, perseguição moral, política e estética; o que vale na literatura considerada subversiva e, nas telas, o cinema (mais) marginal.

Estão todos lá. Dos ícones consagrados Chico, Gil e Caetano a menos badalada – mas não menos importante – turma da ribalta, como José Celso Martinez Corrêa, Augusto Boal e Plínio Marcos. Dos cineastas da Boca do Lixo ao Poema Sujo, de Ferreira Gullar.

Na seção fixa Ensaio Visual, a revista traz a reprodução de sete obras de artistas que, cada um a seu modo, desafiavam a repressão militar: uniram o arrojo da linguagem ao incentivo à reflexão. De lá, foi extraída a imagem da capa, de autoria de Cildo Meireles. O artista carimbou cédulas com a frase “Quem matou Herzog?” e retornou o dinheiro de volta à circulação – uma provocação e um protesto pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Criações de Nelson Leiner, Claudio Tozzi, Artur Barrio, Antônio Manuel e Waldemar Cordeiro também compõem a seção.

Em detalhes

Graciliano também trouxe o debate sobre liberdade de expressão para os dias de hoje. Na entrevista, o jornalista e historiador baiano Paulo César de Araújo – protagonista de um processo recente que envolveu a proibição de sua biografia Roberto Carlos em Detalhes – discorre sobre o posicionamento contraditório de artistas que se tornaram grandes nomes da música brasileira. O autor de Eu Não Sou Cachorro, Não e O Réu e o Rei também discute o papel da arte como forma de protesto – ontem e hoje.

Como no resto do país, a produção de arte em Alagoas sofreu com a ditadura, já que por aqui também era necessária a autorização prévia para veiculação e apresentação de qualquer material. À época, o professor Otávio Cabral era presidente do Teatro Universitário de Alagoas (TUA), e conta que, em determinadas ocasiões, precisou até dar explicações ao superintendente da Polícia Federal sobre um de seus textos.

O movimento estudantil também é abordado. A revista relembra os lances do Festival Universitário de Música Popular Brasileira, quando os estudantes decidiram se articular com o TUA para protestar contra o regime. As manifestações políticas do movimento apostavam nas atividades culturais, especialmente os festivais de música, para dar o recado de contestação e de defesa das liberdades individuais.

Durante o período da ditadura, nada chegava ao público sem antes passar pelos olhos dos agentes da Censura Federal. Retratando o modos operandi do regime, a seção Documenta da Graciliano apresenta documentos elaborados pelos censores que mutilavam ou proibiam expressões que contestassem as ações dos militares.

Graciliano chega às bancas sem censura, em mais uma edição de fôlego. Viva a liberdade!

Agência Alagoas

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Redação

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