ALE discute impacto do fim da queima da cana no trabalho rural

ALE discute impacto do fim da queima da cana no trabalho rural

Apesar de não “colher” uma boa imagem de sua atuação – até por conta dos sucessivos “escândalos” que enfrentou nos últimos anos – a Assembleia Legislativa tem discutido questões fundamentais para Alagoas.

E quase sempre as discussões passam desapercebidas. É o caso de temas que afetam o agronegócio e terão forte impacto na economia do estado, como a utilização das águas do canal do sertão, a aprovação de redução de taxas cartoriais para registro de cédulas rurais e a elaboração de políticas voltadas para assentamentos da reforma agrária e agricultura familiar.

Um seminário realizado na semana passada (veja texto abaixo), coloca em pauta uma questão complexa: o fim da queima da cana-de-açúcar.

Alagoas tem cerca de 100 mil trabalhadores rurais no setor canavieiro. Mais da metade trabalha diretamente no corte manual da cana-de-açúcar. O fim das queimadas, previsto para 2017, é defendido por ambientalistas, por conta de benefícios ambientais. No entanto é preciso que se discuta, desde já, o que fazer com esses trabalhadores.

Trabalhadores e produtores defendem mudanças na legislação. Isso porque o fim do corte manual poderia causar uma crise sem precedentes no setor, inviabilizando a atividade em regiões de encosta – o que representa, ainda hoje, mais de 30% de toda a cana produzida em Alagoas.

O fim da queimada por afetar a economia de mais de 20 cidades do estado, com a possibilidade de ocorrências de fluxo migratório, aumento do desemprego e da miséria. Esse é um tema que deve merecer toda a atenção não só da ALE, mas de toda a sociedade, até porque 20% do PIB de Alagoas ainda dependem da cana.

A seguir texto da assessoria da ALE produzido no dia 29 de maio:

Assembleia promove Seminário sobre a extinção da queima da palha da cana de açúcar em Alagoas

Seminário promovido pela Frente Parlamentar Ambientalista da Assembleia Legislativa na manhã desta quinta-feira, 29, reuniu representantes do poder público, da iniciativa privada e da classe trabalhadora no plenário da Casa, para debater a importância do protocolo de intenções que estabelece o ano de 2017 como prazo final para acabar com a queima da palha da cana de açúcar. O debate se norteou pela preocupação social com os trabalhadores do setor, que devem ficar desempregados com a medida. A estimativa é de que entre 60 mil e 70 mil cortadores de cana só em Alagoas, sejam atingidos pela norma.

Membro da Federação dos Trabalhadores da Agricultura no Estado (Fetag) e ex-cortador de cana, Cícero Domingos criticou a mecanização do setor e a preocupação do setor produtivo com ganhos no curto espaço de tempo. Ele garantiu que os trabalhadores da cana sabem manejar o produto, esteja ele queimado, como é atualmente, ou no seu estado natural, que eles chamam de cru. “Para o trabalhador, tanto faz cortar a cana queimada ou crua. O problema está nas máquinas, que tiram os empregos”, afirma.

Domingos reconhece que uma grande dificuldade para a absorção da mão de obra é a educação e defende a qualificação profissional no setor. Apesar da opinião do trabalhador, o setor empresarial não vê outra saída. É o que afirma o representante da Usina Seresta, Geraldo Gomes de Barros. Para ele, a mecanização é um caminho natural sem volta e a saída é o incentivo à agricultura familiar, somada à capacitação profissional. “A mecanização veio para ficar e isso, dificilmente, vai mudar”, declarou ele.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que iniciou os estudos de impacto ambiental que podem acontecer com o fim da queima da cana de açúcar, declarou que os benefícios ambientais representam ganhos significativos, motivo pelo qual o protocolo recebe o apoio da empresa. A técnica da Embrapa, Valane Maria Pereira, reconhece que a mecanização também pode gerar outro efeito, mas aponta a solução. Ela explicou que a palha da cana que fica sobre a terra pode provocar o surgimento de pragas, mas o produto pode ser utilizado na fabricação de álcool.

Para o presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Jota Cavalcante (PDT), o assunto é complexo e será necessário aprofundar o debate. “O debate foi realizado para esclarecer dúvida, mas suscitou outras. Por esse motivo, faremos outro seminário para ampliar a discussão, a fim de subsidiar a apresentação de projeto de lei”, adianta. O projeto a que se refere o parlamentar irá aderir o estado de Alagoas ao protocolo, iniciado por São Paulo (SP) e seguido por outros estados, a exemplo de Minas Gerais (MG).

O presidente do Legislativo, deputado Fernando Toledo (PSDB) defendeu a promoção de capacitação dos trabalhadores o mais rápido possível para que haja a absorção dessa mão de obra pelo mercado de trabalho.

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Redação

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