Cultivares de feijão da Embrapa: alternativas rentáveis para agricultura familiar

Cultivares de feijão da Embrapa: alternativas rentáveis para agricultura familiar

Implantado em 2002, em cerca de 25 mil hectares, o assentamento Itamarati, em Ponta Porã/MS, atualmente é formado por milhares de famílias de agricultores familiares. As famílias investem em produção de leite e lavouras, como as de soja, milho, feijão, mandioca e arroz, para seu próprio sustento e para geração de renda.

Em benefício da continuidade do desenvolvimento sustentável da produção e da segurança alimentar dos agricultores da Itamarati, a Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), realizará o “Dia de Campo cultura do feijoeiro”, em 4 de dezembro deste ano, a partir das 9 horas, em Unidade Demonstrativa montada em uma das propriedades locais. Serão apresentadas diversas cultivares utilizadas pelos agricultores, entre elas sete são da Embrapa: cinco do grupo carioca, Pérola; BRS Requinte; BRS Ametista; BRS Notável; BRS Estilo, com destaque para as três últimas e duas cultivares do grupo preto BRS Campeiro; BRS Esplendor.

No evento, serão abordados aspectos técnicos como as “Características das cultivares de feijão BRS”, com o pesquisador Carlos Lasaro, da Embrapa Agropecuária Oeste; “Fixação Biológica de Nitrogênio no feijoeiro – sua importância e sua aplicabilidade”, com o pesquisador Fabio Mercante, da mesma Unidade da Embrapa; e “A produção de sementes de feijão”, com técnico da Copaceres. Os parceiros deste Dia de Campo são a Embrapa (Agropecuária Oeste, Produtos e Mercado e Arroz e Feijão), Agraer e Copaceres.

Sementes certificadas

No Brasil, há três safras de feijão: 1ª safra (safra das águas ou primavera-verão), 2ª safra (safra da seca ou verão/outono) e 3ª safra (feijão de inverno ou outono-inverno). A maioria dos agricultores de Mato Grosso do Sul cultivam o feijão-comum na safra da seca; e a aquisição de sementes certificadas pelos agricultores para o plantio de 2014 deve ser planejada e antecipada.

“Temos visto plantio entre março e abril na safra da seca. O ideal seria plantar entre o início e o final de fevereiro para aproveitar ao máximo o potencial da cultivar, tendo menor risco de ocorrência de veranicos. Além disso, as condições climáticas são mais favoráveis, diminuindo o risco de geadas na lavoura, principalmente em regiões de alta altitude”, dizem os pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão, e Embrapa Agropecuária Oeste, Leonardo Cunha Melo e Carlos Lasaro, respectivamente.

Em MS, as sete cultivares da Embrapa demonstradas no evento se adaptam bem ao cultivo de verão-outuno e podem ser boas alternativas econômicas para os produtores. Dentre elas destacam-se as três mais novas cultivares indicadas para o MS, BRS Estilo, BRS Ametista e BRS Notável, todas do grupo carioca.  Mas o pesquisador Carlos Lasaro Pereira de Melo e o analista Alceu Richetti fazem um alerta sobre um dos principais gargalos da cultura: a baixa produtividade do feijão, que está associada à baixa utilização de sementes certificadas.

A utilização de grãos ao invés de sementes causa, muitas vezes, a entrada de doenças de difícil controle, aumentando o custo de produção. “A semente de boa procedência é um dos principais insumos empregados pelos produtores que pode suscitar em maior sucesso do empreendimento”, enfatizam no Comunicado Técnico 183 da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS).

Segundo Carlos Lasaro, dentre as cultivares, Pérola é a mais tradicional e amplamente conhecida no mercado, pelo alto potencial produtivo com ampla adaptabilidade e alto valor comercial dos grãos. “A BRS Requinte é uma opção interessante para os produtores que buscam maior segurança no armazenamento pós-colheita, pois apresenta retardamento no escurecimento dos grãos. Assim como Pérola, a cultivar BRS Requinte não é indicada para colheita mecânica direta”, explica.

Para o grupo comercial preto, as cultivares BRS Campeiro e BRS Esplendor são adaptadas à colhetia mecânica direta. BRS Campeiro é a melhor opção para produtores que buscam grãos de maior tamanho, alto potencial produtivo e precocidade.  “Por outro lado, a cultivar BRS Esplendor é a mais indicada para os agricultores que estão pouco capitalizados, com poucas condições de investimento no controle de doenças, pois esta cultivar agrega características de amplo espectro de resistência a doenças, o que resulta em maior estabilidade de produção, maior adaptabilidade a condições desfavoráveis de cultivo e redução dos custos de produção”, afirma Carlos Lasaro.

Destaques

BRS Estilo – é uma das mais produtivas que existe no mercado. O grande diferencial é a qualidade do grão: claro, de fundo branco e sementes graúdas, características preferidas no mercado. A grande vantagem é que o rendimento de peneira, ou rendimento de beneficiamento, que está ligado ao tamanho e uniformidade do grão, é muito alto. Isso faz com que o produtor descarte menos grãos ou sementes no processo de empacotamento, agregando valor na sua comercialização.

Essa cultivar tem em torno de 95% de aproveitamento devido à uniformidade do tamanho do grão. “É a melhor cultivar em produtividade e qualidade de grãos que a Embrapa tem atualmente. Isso garante um maior retorno para o produtor no momento da venda”, diz o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão.

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Carlos Lasaro, diz que essa cultivar não é recomendada . “em lugares com cultivo intensivo e com histórico de Murcha de fusarium, o que, normalmente, não é o caso de Mato Grosso do Sul.

Outro diferencial é que a BRS Estilo é uma planta ereta, portanto as vagens ficam altas em relação ao solo, o que permite a colheita mecanizada, com baixo nível de perdas. “A grande vantagem é que, mesmo com porte ereto, a BRS Estilo mantém a alta produtividade, o que não acontecia com outras cultivares da Embrapa  adaptadas a colheita mecanizada”, ressalta Carlos Lasaro.

BRS Ametista – os agricultores familiares do Assentamento Itamarati estão produzindo sementes. Essa cultivar possui ciclo normal (85 a 94 dias) e arquitetura semiereta (adaptada apenas à colheita mecânica indireta). É voltada para produtores tradicionais, que cultivam feijão há muitos anos e utilizam a Pérola, cultivar da Embrapa que está há 18 anos no mercado, mas que é muito suscetível a doenças, elevando o custo de produção. Para o produtor que ainda utiliza o Pérola, a pesquisa tem recomendado a BRS Ametista, que possui uma planta muito semelhante ao Pérola, só que com maior resistência a doenças como a antracnose e com grão maior. “Enquanto cem grãos do Pérola pesam 27 gramas, cem grãos da BRS Ametista pesam 30 gramas. Isso também é uma característica que o mercado valoriza”, compara.

BRS Notável – possui resistência mais ampla a doenças entre os materiais da Embrapa. Tem resistência a quatro doenças: antracnose, Murcha de fusarium, Murcha de curtobacterium e crestamento bacteriano comum. Por ser um material bastante rústico, a pesquisa recomenda para a agricultura familiar. “É uma cultivar que dá uma segurança maior de colheita. Além disso, ela tem uma característica muito interessante: é semiprecoce, sendo de dez a doze dias mais precoce que as cultivares tradicionais”, explica Leonardo.

Isso significa que a BRS Notável pode ser colhida mais cedo, escapando de um veranico, e por aproveitar uma “janela de plantio” mais curta, em que não é possível entrar com as cultivares normais. É possível melhorar suas características de grãos por meio da colheita com uso de dessecação, logo após a maturação fisiológica dos grãos.

Segundo pesquisador da Arroz e Feijão, o produtor deve realizar a dessecação com produto químico recomendado para  o feijão, que não deixa resíduo. Assim que secar, realiza-se a colheita para obter grãos ainda claros, sem ter sofrido exposição excessiva ao sol e a chuva. “Esse é o manejo mais adequado para quem utilizar a BRS Notável. Como os grãos foram colhidos um pouco mais cedo, poderão ter o preço mais valorizado, porque entram no mercado quando ainda não houve a colheita das cultivares de ciclo normal”. Outra vantagem é que o custo de produção é menor pela menor aplicação de defensivos. “Apesar de ser semi-precoce, é um material que possui um potencial produtivo igual ao das outras duas cultivares”.

Fonte: Embrapa

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Edivaldo Junior

Edivaldo Junior

Edivaldo Junior é jornalista, colunista da Gazeta de Alagoas e editor do caderno Gazeta Rural

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