Hoje estou no baixo clero, diz Renan Calheiros

http://edivaldojunior.com.br/wp-content/uploads/2019/03/Época.jpgHoje estou no baixo clero, diz Renan Calheiros

Em entrevista exclusiva aos jornalistas Amanda Almeida, Ana Clara Costa e Paulo Celso Pereira da revista Época – a primeira após a eleição da Mesa Diretora do Senado – o senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse que, agora, faz parte do “baixo clero”.

A atual posição segundo Renan, garante mais independência para se posicionar em relação ao governo de Jair Bolsonaro.

O senador tem sido crítico em relação ao início do governo Bolsonaro e avaliou que o presidente não deve confundir o conceito de coalizão com a velha política.

O equívoco, aponta Renan Calheiros, pode inviabilizar a gestão e criar dificuldades para a aprovação de propostas como a reforma da previdência. “ As dificuldades políticas que são colocadas no caminho das reformas preocupam. Sobretudo pelo entendimento verbalizado pelo presidente de que já havia feito sua parte ao entregar a proposta. Isso obscurece um pouco a concepção do que, para ele, significa ser presidente da República, sentar naquela cadeira, potencializar a instituição, fazer política, cuidar das demandas legislativas”, afirmou.

Na entrevista, Renan definiu o que é baixo clero, na sua avaliação: “Hoje, estou no baixo clero. Sou um geraldino, que é a expressão que usavam para caracterizar o torcedor que frequentava a geral do Maracanã, que deixou de existir depois de uma dessas reformas. Com muito orgulho, integro aí essa bancada, a BBC, a bancada do baixo clero”, disse.

Leia a entrevista

RENAN CALHEIROS: ‘HOJE, ESTOU NO BAIXO CLERO’

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), de 63 anos, saiu das eleições de 2018 como um dos poucos caciques a sobreviverem à onda renovadora das urnas. Sofreu, no entanto, uma dura e inédita derrota na disputa pela presidência do Senado, que tentou ocupar pela quinta vez. A ÉPOCA, em sua primeira entrevista após a derrota na casa, o parlamentar investigado em 14 inquéritos no STF disse que, agora, faz parte do “baixo clero”, posição que, segundo ele, lhe garante mais “independência” para se posicionar em relação ao governo de Jair Bolsonaro.

Crítico dos primeiros 100 dias de governo, avaliou que o presidente não deve confundir o conceito de coalizão com “a velha política”, sob o risco de inviabilizar sua própria gestão. Conhecido como exímio antecipador de cenários — o que o levou, ao longo de sua trajetória, a abandonar aliados, como Fernando Collor e Michel Temer, em nome de sua sobrevivência política —, ele afirmou que o governo vive a “armadilha das redes sociais” e que, se quiser sobreviver, terá de recomeçar.

1. Neste início de governo, as coisas estão saindo como o senhor imaginava?

Piores do que eu imaginava. Todo governo tem uma acomodação natural, uma espécie de lua de mel. Desta vez, o noivo trocou juras de amor por uma agenda beligerante, bate-cabeça, cria crises internas e dá declarações estapafúrdias sob os olhares dos padrinhos e madrinhas. Isso, de certo modo, acentua a preocupação de todos com o que vai acontecer. Os maiores oposicionistas, hoje, são os governistas. Acho que essa pirataria tinha de ser criminalizada. Se é verdade que a reforma da Previdência naufragou, como consequência, esse governo acabou. Vai ter de começar novamente. Mas é duro você vaticinar que o governo que nem sequer começou vai ter de recomeçar.

2. A reforma da Previdência naufragou, em sua opinião?

As dificuldades políticas que são colocadas no caminho das reformas preocupam. Sobretudo pelo entendimento verbalizado pelo presidente de que já havia feito sua parte ao entregar a proposta. Isso obscurece um pouco a concepção do que, para ele, significa ser presidente da República, sentar naquela cadeira, potencializar a instituição, fazer política, cuidar das demandas legislativas.

3. Governar sem articulação política pode funcionar?

Não se trata de velha e nova política. Há política e há vazio político. Confundir articulação política, negociação, coalizão com a velha política é, antes de qualquer coisa, não compreender seus limites e o que ela pode ajudar a resolver do ponto de vista dos avanços, do crescimento econômico, da geração de emprego.

4. Setores do governo têm convocado a militância para pressionar parlamentares em favor da reforma. É uma boa estratégia?

Esse território da rede social mais prejudica do que ajuda. Ele contém uma dosagem de irracionalidade que engana, obscurece. Bolsonaro foi colocado na Presidência da República em função de circunstâncias várias, mas, sobretudo, graças ao desgaste da política, que foi exposta como nunca nos últimos cinco anos. Mas ele precisa ter clareza sobre um projeto de desenvolvimento, políticas públicas, programa de governo, planos, metas. Ou pode continuar nessa armadilha, recorrendo a todo momento ao discurso dos costumes, que, em vez de aproximar as pessoas, mantém o conflito na sociedade. Evidente que, quando se soma isso a declarações estapafúrdias, como o apelo para comemorar 64, o elogio ao sanguinário Pinochet, ao Stroessner, isso ajuda a colocar o presidente no papel de desagregador.

5. O senhor será oposição?

O fato de não estar na presidência do Senado me deixa mais à vontade para o cumprimento de um papel mais independente, fazendo sugestões, críticas e cobrando resultados. Com relação à reforma da Previdência, que é um assunto que está aí na ordem do dia, eu vou acompanhar a posição dos governadores de minha região.

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