Brasil encerra a década com onda conservadora

http://edivaldojunior.com.br/wp-content/uploads/2019/12/lula-e-bolsonaro1.jpgBrasil encerra a década com onda conservadora

“Pela primeira vez não vamos ter um candidato de direita na campanha”, celebrava o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um evento no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um ano antes da eleição que consagraria Dilma Rousseff como sua sucessora.

A ideia de que a ausência da direita em um pleito presidencial seja algo desejável, de outro lado, embute um nítido componente autoritário: Lula afirmava, em essência, que a democracia mais saudável é aquela em que só um campo político está representado. E agora a tal direita que esteve ausente nas eleições de 2010 chegou ao poder na sua versão mais agressiva: Jair Bolsonaro. Essa virada de um extremo ao outro define a trajetória política brasileira na década que se encerra.

Já se dizia que o País saiu dividido do pleito de 2014, quando Dilma reelegeu-se no segundo turno com uma estreita vantagem de cerca de 3,5 milhões de votos em relação a Aécio Neves. Mas a polarização só se tornou realmente abissal com a emergência recente de Bolsonaro.

Se durante o governo de Michel Temer o PT conseguira tornar corrente nos círculos de esquerda a ideia de que o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 fora um golpe, a revisão de conceitos tornou-se ainda mais selvagem sob Bolsonaro: o País de repente começou a discutir se o golpe de 1964 foi mesmo golpe, e se a ditadura que então se instaurou foi mesmo ditadura. Bolsonaro constitui uma ruptura drástica de consensos estabelecidos no debate público brasileiro. Sua eleição consagrou o fim de uma certa hegemonia cultural da esquerda, muito bem definida pelo crítico marxista Roberto Schwarz em um ensaio do final dos anos 1960.

O ano de 2013 foi fundamental na virada conservadora no Brasil. As manifestações que tomaram as ruas em junho começaram com movimentos minoritários da esquerda que protestavam contra o aumento da tarifa de transporte público em São Paulo, mas as massas que saíram às ruas naquele mês expressaram anseios mais variados. A bandeira do combate à corrupção também estava lá, antecipando uma corrente essencial do compósito de forças que viria a sustentar o governo Bolsonaro: o “lavajatismo”.

O jornalista Eugênio Bucci, professor da USP e autor de A Forma Bruta dos Protestos, observa que “explosões sociais” como as que se viram naquele ano comportam inquietações múltiplas. “Havia uma insatisfação com a corrupção, com a qualidade de serviços públicos, com a ausência de representação nas instituições políticas, com o distanciamento entre eleitores e seus representantes”, diz. A direita que adiante constituiria a base mais fiel a Bolsonaro tomou impulso ali.

Figura do baixo clero do Congresso que ganhou proeminência por expressar sem pejo nem sutileza as opiniões mais extremadas, Bolsonaro conseguiu se alçar a representante do antipetismo e do combate à corrupção. Era, define Ortellado, o candidato “mais plausivelmente antissistêmico” em um momento no qual se fixara a noção de que os partidos tradicionais eram todos “farinha do mesmo saco”.

Fiel a seu estilo, o presidente tem defendido cada um desses valores de forma confrontacional, sempre se batendo contra os governos “socialistas” que o antecederam. Sua postura hostil à imprensa, seu comportamento errático e imperial, sua exaltação de ditaduras de direita parecem representar um desafio constante à cultura democrática brasileira.

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