Curso de extensão da Ufal promove discussão sobre saúde mental

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Qualidade de Vida Acadêmica (Q.V.A.) é um espaço de acolhimento e diálogo para os universitários que sofrem com transtornos psíquicos
O futuro é algo que todos temem, mas existe um grupo específico que está adoecendo no presente por não saber do que esperar do futuro, os universitários. Sofrem com a pressão psicológica dentro da universidade. Encontrar um estágio, ser o melhor da turma, orgulhar a família e muitas das vezes ter que conciliar estudo e trabalho, que é a realidade da maioria dos estudantes universitários.
Foi o que apontou uma pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) . O estudo feito no ano de 2016, indicou que sete em cada dez alunos de instituições federais no Brasil sofrem de algum tipo de dificuldade mental ou emocional. O levantamento incluiu dados de quase 940 mil graduandos, de 62 instituições, com idade média de 24 anos.
Para a especialista em Psicologia Clínica e Docência do Ensino Superior, Silva Texeira de Lima “O estresse é muito grande nos jovens a partir do ensino médio, quando começa a cobrança para ingressar na universidade. Começam atender as necessidades particulares da família”.
A universidade Federal de Alagoas (UFAL) abriu um curso de extensão, com as siglas Q.V.A. Qualidade de Vida Acadêmica, com o intuito de receber os alunos dentro das salas de aulas de uma forma diferente, deixando de lado a relação aluno e professor, e promovendo a conciliação de relacionamentos, levando dinâmicas para os alunos.
O idealizador do curso é o psicólogo da pró-reitoria Ufal, Everton Fabricio Calado, com o apoio da pró-reitoria estudantil. Devido procura pelos atendimentos individuais, o clínico Everton, notou a necessidade de demandas de trabalhos coletivos e de intervenção aos males que afeta o bem-estar do indivíduo, com o viés mais preventivo a saúde mental.

O curso concluiu a primeira turma com cerca de 30 alunos e os encontros acontecia no Campus A.C. Simões, uma vez na semana, de 13h30 às 16h. Acolhendo alunos que sofriam de ansiedade, timidez, muitos com dificuldades de se relacionar com os colegas de turma.
A aluna de Pedagogia, Ana Camila, participou da primeira turma do curso e, diz que foi uma experiência renovadora em sua vida.
“Participar do Q.V.A. foi uma experiência sem explicação, porque na minha vida pessoal eu sempre fui muito ansiosa e isso se refletiu claramente na universidade, junto com a ansiedade e a insônia. Eu metia a cara nos estudos e esquecia que eu tinha vida social, e eu fui adoecendo, minha saúde mental já estava afetada”, relata a estudante.

Segundo o Psicólogo Everton, ele tem três fontes para auxilia-lo com o curso. O primeiro seria a literatura, pois, os estudiosos passaram a falar mais do assunto, a pesquisar, principalmente no campo universitário, onde envolve casos de suicídios com universitários. A sua segunda fonte é o material clinico, dos alunos que são atendidos no cotidiano e a terceira é a própria fala dos alunos que participam do curso.
“Muita dificuldade de adaptação com a vida acadêmica, relações dificultosas de aluno com professor, as problemáticas cotidianas, a intolerância que é muito presente, a discriminação no ambiente da universidade. A falta de perspectiva do futuro e a grande manifestação de transtornos, ansiedade e depressão, é o que reflete os jovens que procura o curso ou os atendimentos clínicos individuais”, ressalta Everton.

O curso tem como carro chefe abraçar os alunos, para que entendam que eles não estão sozinhos. Sabendo que o os transtornos psíquicos não estão apenas dentro das instituições federais, o curso é aberto para toda a comunidade universitária de Maceió, incluindo os institutos Federais (IFs) e as faculdades privadas.
Estudantes das federais sofrem mais do que nas privadas?
O que os alunos de ensino privado e público tem em comum, segundo o clínico de psicologia da universidade federal de Alagoas, seria a preocupação com o futuro, a empregabilidade que atinge a todos. Mas o clínico ressalta os programas de financiamentos, e os alunos que fazem uso do programa, por mais que saibam o que estão fazendo o curso que deseja, sofrem com a ansiedade de ter uma boa formação para ingressar no mercado de trabalho e poder pagar o financiamento estudantil.

Para explicar o estereótipo de que só os alunos ensino superior federal “sofre”, Everton diz que existe um perfil de aluno da universidade pública, que é o de carregar o peso de ser o primeiro da família a ingressar na faculdade. “O aluno põe pra si mesmo o papel de redentor social da família e, isso é um peso a mais na causa de sofrimento “, acentua.

Sobre jovem está adoecendo na universidade, o clinico tem uma visão bem pontuada e diz: “quem tá adoecendo não é o jovem da universidade, mas sim está acontecendo na universidade também, por ser um ambiente que o aluno frequenta. A universidade é um ambiente que tem desafios, tem problemas, tem gatilhos de sofrimentos, mas o que tá sendo pesquisado em nível de pesquisa e a nível de mundo, é o aumento vertiginoso de sofrimento psíquico entre jovens”.

Segundo o mesmo ainda não se tem estudos que aponte a ligação direta da universidade como causa de adoecimento psíquico e ressalta que não podemos fazer uma ligação da universidade como causa de gatilho e efeito para os quadros de jovens adoecidos.

Os alunos de psicologia ou até mesmo os profissionais ouvem o grande dilema de serem bem resolvidos com a sua saúde mental, que são os detentores das causas problemáticas.

O aluno José Anderson, do primeiro período do curso de psicologia na UFAL, e também aluno do curso de qualidade de vida acadêmica, já consegue senti esse desconforto com os estereótipos que refletem nos alunos do curso de psicologia.
“Quando as pessoas falam que os alunos de psicologia são muito bem resolvidos não pode esquecer principalmente que esse aluno deve fazer terapia, porque nós como futuros psicólogos, a gente faz terapia para o outro e não para nós”, diz o estudante.
A nova turma do curso de extensão tem uma grande demanda de alunos do curso de psicologia, e o clínico Everton tem uma explicação, “A gente tem algumas hipóteses que o curso de psicologia acaba sendo muito exigente e, talvez os jovens futuros psicólogos por assistirem esse quadro, eles estão se mobilizando, se preocupando, se investindo, por perceberem o peso da psicologia na sociedade”.
A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) disponibiliza atendimento com psicólogos e oficinas com técnicas de meditação, dança e massagem.

Jornal de Alagoas/Texto de Graciele Oliveira

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