Pinheiro: A fotografia em forma de memória

http://edivaldojunior.com.br/wp-content/uploads/2019/05/pinheiro-45.jpgPinheiro: A fotografia em forma de memória

Mais de 200 anos de construção

Maceió teve sua independência da Província de Pernambuco em 1817, tendo, em 5 de dezembro de 1839, sido oficializada como nova capital da Província de Alagoas. Ainda que a sua história já estivesse caminhando, os primeiros passos foram dados por volta de 1815. A cidade que obteve o nome derivado de um engenho de açúcar chamado “Massayó” teve entre muitos aspectos o seu molde ao longo dos 204 anos, tanto politicamente quanto culturalmente, dadas as transformações sociais que ocorreram desde a “vila” até torna-se a capital alagoana. A forte influência indígena permanece viva nos hábitos, locais e construções espalhados pela cidade.

Os nomes dos bairros da Pajuçara, Ipioca, Jacarecica, Jacutinga, Mundaú, Guaxuma e Manguaba são algumas das palavras herdadas historicamente pelos ancestrais que foram os primeiros moradores da região. Já a conhecidíssima Avenida Fernandes Lima, até as proximidades do Quartel do Exército, era toda tomada por mansões onde residiam usineiros, grandes industriais, comerciantes, magistrados e políticos. Atualmente, é tudo comércio. As casas antigas, ou foram derrubadas ou descaracterizadas, dando lugar a lojas dos mais variados ramos, consultórios médicos, supermercados, agências bancárias e outros estabelecimentos comerciais. Restam algumas mansões em suas transversais.

A cidade absorveu e se adequou às mudanças que o desenvolvimento exige, mas as histórias individuais presentes nos bairros, nas ruas, nas vielas, durante todos esses anos, de pessoas que passam e passaram por esses lugares, sempre permanecerão na memória.

O bairro do Pinheiro surgiu em meados de 1944, quando foi escolhida a área na Av. Fernandes Lima para a construção do Quartel do 20° Batalhão de Caçadores. Assim chegaram as moradias, as pessoas, as ruas e mais tarde o Hospital, hoje conhecido como, Sanatório. Um Bairro antigo e querido, que está sendo destruído por rachaduras e engolido por crateras há mais de um ano.

As primeiras rachaduras surgiram no bairro do Pinheiro em 15 de fevereiro de 2018, em ruas e imóveis, após fortes chuvas e um tremor de terra. Representando uma ameaça a princípio a cerca de 19 mil pessoas que moram na localidade. Os danos causados vêm aumentando e seguem aterrorizando a população.

Registrando o inevitável

A partir de então, toda a população alagoana vem se indagando sobre o que vai ocorrer às famílias, aos locais de adjacências e ao lugar no qual o bairro se encontra hoje. Fotografias sempre foram usadas com o intuito de registrar momentos e situações para pessoas que não presenciaram ou experimentaram os fatos presentes nelas. Felicidade, tristeza, medo e amor: um bom fotógrafo pode transmitir tudo em um único clique. Se tratando de tragédias, a visão e a percepção de quem tira uma foto, é essencial. Porque é pelo olhar do fotógrafo que qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo poderá ter acesso às informações existentes ali.

A fotografia traz foco para pontos únicos, enquadra uma situação isolada. Assim, fazendo com que aquele pedaço de história se torne importante, especial, ajudando a salientar uma possível reflexão e inserindo quem está vendo na narrativa. O intuito de fotografar tragédias e situações de calamidade pública, como no caso do bairro do Pinheiro, é de promover, denunciar e comover a partir dessas imagens. É mostrar as histórias, cenários individuais e convidar a sentir, a participar dos relatos.
Pensando nisso, um grupo de fotógrafos que faz parte da agência Fragma, fundada em 2017, acompanhou atentamente a problemática no bairro. A agência, que tem foco em questões socioambientais e culturais, percebeu o quanto a fotografia poderia contribuir, no sentido de provocar aos moradores de Maceió, um envolvimento coletivo acerca do problema.

Com isso, criou-se um projeto com resultado em dois produtos: Uma exposição fotográfica itinerante e um mini documentário audiovisual, carregando o título “PINHEIRO – BAIRRO DE VIDAS RACHADAS”. Reflete à questão das queixas dos moradores; histórias que foram construídas ali, sendo deixadas para trás.“Fizemos alguns encontros com líderes do Movimento, e alinhamos o conceito que nortearia a produção das imagens”, relata Jorge, fotógrafo e fundador da agência. A produção do projeto ainda contou com a ajuda dos amigos e fotógrafos Arthur Celso e João Facchinetti, além do apoio do S.O.S Pinheiro no acesso aos locais e personagens.

O olhar de desolamento registrado pela equipe Fragma traduz a situação que muitos se encontram.

De acordo com o fotógrafo Jorge, o objetivo do trabalho é humanizar essa problemática, “dar cara” mesmo sem identificar os indivíduos. O resultado disso, é fazer com que outras pessoas conheçam os dramas humanos, além da situação geológica que a grande mídia já vem apresentando. A equipe entende que os dramas dos moradores permanecerão os acompanhando, tendo em conta a dimensão emocional e histórica que a problemática geológica gerou. “Quanto ao território compreendido pelo bairro do Pinheiro, tememos que se torne uma área vulnerável à instalações de novos problemas sociais”, declara.

As fotos registradas pela Fragma apresentam o misto de incerteza e medo dos moradores do bairro do Pinheiro. As fotos, em preto e branco, enfatizam o sentimento de dor, não só dos que residem no bairro, mas de toda a população alagoana. Uma calamidade bem no meio da cidade que transforma um dos bairros mais populosos de Maceió em um bairro fantasma. Rachaduras por várias ruas e as casas, abre também crateras nas famílias que perdem seus imóveis, o conforto do lar que por tanto tempo lutaram para conseguir e suas lembranças.

Ao todo, a produção das imagens (fotografias e gravações) durou três semanas, entre janeiro e fevereiro. A primeira mostra ocorreu de 26 de fevereiro a 01 de março, no calçadão da Rua do Comércio e na Praça Deodoro, no Centro de Maceió. Estão previstas outras edições, que incluirão a UFAL e a Praça Dois Leões, estas nos dias 19 e 20 de abril, durante o FOTOSURURU.

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Agência Ciência Alagoas

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Redação

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