No dia 5 de novembro de 2014, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) interditou, duas casas de farinha em Girau do Ponciano. Cercada de uma grande pirotecnia, “a interdição ocorreu depois de constatado que os locais lançavam efluentes tóxicos no meio ambiente”, disse,à época a assessoria do Ministério Público Estadual.
No dia seguinte, mais três casas de farinhas foram fechadas na ação (FPI) realizada em parceria por órgãos como o Ministério Público Federal, o Ministério Público de Alagoas, Ibama, IMA e Polícia Militar, entre outros.
A ação foi desproporcional. Até mesmo os gestores públicos que participaram do ato admitem que houve exageros. Isso porque, do outro lado, os prejudicados não estão grandes empresários ou mega indústrias, mas centenas de trabalhadores rurais e agricultores familiares ligados à cadeia produtiva da mandioca que viram, de uma hora para outra, sua situação se agravar.
De acordo com Eloisio Lopes Junior, presidente da Câmara Setorial da Mandioca em Alagoas, cada casa de farinha atende pelo menos uma centena de agricultores familiares. “Ao fechar essas pequenas agroindústrias, o IMA agravou as dificuldades que o setor enfrenta. Hoje a mandioca é vendida abaixo do custo de produção e tem muita gente sem trabalhar e passando fome por conta disso”, lamenta.
Atualmente a tonelada de mandioca é comercializada a R$ 140, abaixo do custo de produção que é estimado entre R$ 180 e R$ 200.
“Eu hoje estou pagando para produzir”, desabafa o presidente da Associação dos Beneficiadores de Mandioca de Alagoas (Abeman/Al), Renildo Moura.ele defende um diálogo com todos os órgãos envolvidos antes da interdição para conseguir amenizar a situação.
Alagoas tem, atualmente, 26 mil famílias de produtores de mandioca apenas na região agreste onde a FPI foi realizada. Essas famílias trabalham com prejuízos, em função da queda do preço da mandioca. “Sem as casas de farinha, temos que vender nossa mandioca para Sergipe e Pernambuco, por um baixo preço, ajudando a gerar emprego e renda em outros estados”, lamenta.
Sensibilidade ambiental e social
A situação dos agricultores familiares do agreste foi discutida em reunião realizada pela Secretaria de Agricultura do Estado, em Arapiraca, na quinta,12. O encontro, realizado no Teatro Planetário, com mais de 200 produtores, foi em clima tenso. Mas a reunião foi considerada positiva. A Seapa mobilizou os produtores, criou uma comissão de técnicos para tratar do assunto e abriu um canal de diálogo com o IMA.
Na sexta-feira, 13, o novo presidente do IMA, Gustavo Lopes, atendeu uma comissão de produtores e prometeu tratar a questão com celeridade.
A polêmica, originada na gestão anterior, estava esquecida. “Enquanto as casas de farinha permanecem fechadas, centenas de famílias de agricultores familiares enfrentam dificuldades para escoar sua produção”, alertou o presidente da Coopeagro, Eloizio Junior, na reunião no IMA.
Gustavo Lopes promete dar uma resposta definitiva sobre a situação até o final deste mês. Ele quer uma solução rápida para a crise “política” que afeta os mandiocultores do agreste de Alagoas, que estão em “pé de guerra” com o órgão por conta do fechamento de cinco casas de farinha por falta de licenciamento ambiental.
“Considero o problema das casas prioritário, porque envolve o sustento de famílias de agricultores. Vamos encontrar uma solução que atenda os produtores, dando a eles condições de trabalho, e que esteja dentro da legislação”, adianta.