Apesar do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor”s, a Bolsa brasileira parece estar recuperando fôlego.
Nos últimos dez pregões, o Ibovespa, índice de referência do mercado, subiu em nove deles, acumulando ganho de 10,6% nesse período. Para o pequeno investidor, que no ano passado se livrou de sua carteira de ações, fugindo de uma perda de 15,5% no Ibovespa, pode ser o momento de começar a olhar a Bolsa com mais atenção. Especialistas dizem que pode estar se abrindo uma janela de oportunidade para voltar a investir em renda variável, apesar da flutuação do mercado em ano de eleição. O risco, alertam, é a Bolsa cair tão rápido quanto subiu.
– É cedo para dizer se o Ibovespa engatou uma tendência de alta, já que os fundamentos da economia continuam com problemas. Avalio que a maior parte do portfólio do pequeno investidor ainda deve estar em renda fixa, onde se pode ganhar até 13% ao ano investindo em títulos públicos federais de longo prazo. Mas é hora de começar a observar o que está acontecendo na Bolsa – avalia Paulo Bittencourt, diretor da Apogeo Investimentos, uma empresa do grupo Vinci Partners.
No ano, a Bolsa ainda acumula perda de 3,3%. Parte da lufada recente de otimismo na Bolsa é atribuída a um fluxo de capital novo no pregão, especialmente de investidores estrangeiros. Hoje, de cada R$ 100 negociados no pregão, R$ 51,80 já são de estrangeiros. Um outro fator que influenciou o ânimo dos investidores na semana passada veio do terreno político.
Uma pesquisa que mostrou queda de popularidade no governo da presidente Dilma Rousseff fez o Ibovespa subir 3,5% na última quinta-feira passada. As ações de empresas estatais – diante da possibilidade de uma mudança de gestão – também dispararam. Só os papéis da Petrobras, que este mês atingiram o menor preço desde 2005, subiram 8% no mesmo dia, embora ainda acumulem perdas no ano.
As ações preferenciais, por exemplo, se desvalorizam 8,3% desde janeiro.
– O mercado começou a trazer para o preço das ações qualquer possibilidade de mudança na política econômica e na gestão das estatais. Se a possibilidade de uma mudança de comando do país crescer, a tendência é que esses papéis subam – diz Rodolfo Oliveira, especialista em mercados da Consultoria Tendências.
QUEDA DO DÓLAR AUMENTA ATRATIVIDADE
Um investidor que tenha perfil para correr risco em Bolsa e R$ 100 disponíveis para investir deveria colocar, hoje, entre R$ 20 e R$ 30 em ações, na avaliação de Leonardo Milane, estrategista da corretora Santander.
Para ele, as ações de empresas brasileiras estão baratas em dólar. Se a moeda americana permanecer abaixo de R$ 2,30, o valor fica ainda mais atrativo. Para Milane, a Bolsa avançou nos últimos pregões influenciada pela economia real: – As vendas no varejo cresceram, o nível de emprego se mantém, o indicador do Banco Central (IBC-Br), que é uma prévia do PIB melhorou. E o Brasil não perdeu o grau de investimento. Esse surto de pequenas notícias positivas ajuda a Bolsa.
O estrategista do Santander avalia que, na prática, o mercado já tinha embutido no preço das ações a possibilidade de queda na nota do país, e os papéis haviam caído a um nível muito baixo.
No ano passado, Paulo Bittencourt, da Apogeo, recomendou a seus clientes que reduzissem a exposição em Bolsa de 25% para 5% dos recursos disponíveis para investir.
Para ele, “mercado que sobe rápido, também cai rápido”. Se a alta da Bolsa se mostrar sustentável, Bittencourt pode elevar a recomendação para algo como 10%.
O estudante de Administração, André Luis Hideyoshi Iochida, de 24 anos, não se assustou com o rebaixamento da nota do país. Iochida, que desde 2010 aplica em ações e acompanha as notícias que influenciam o pregão, vê boas oportunidades na Bolsa e pretende até aumentar sua posição em papéis como Vale, Usiminas e BR Malls em 2014.
– Os papéis de bancos são uma nova aposta que quero fazer, já que se beneficiam da alta de juros – diz Iochida.
Para quem está disposto ao risco, especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam alimentos e bebidas, que serão embalados pela Copa, além de agronegócio e setor financeiro. Também veem boas apostas no setor de construção.
Assessoria