Preço baixo agrava crise de usinas de cana-de-açúcar

Preço baixo agrava crise de usinas de cana-de-açúcar

Pressionada pela política de combustíveis do governo, que segura o preço da gasolina e, portanto, impede o aumento do álcool, a indústria brasileira de açúcar e etanol começou o ano em crise.
Desde janeiro, seis usinas já pediram recuperação judicial. O número é igual a todos os pedidos registrados nos últimos dois anos, somados.

Também supera o número total de pedidos registrados individualmente em cada um dos últimos três anos, segundo levantamento da consultoria MBF Agribusiness. Além dos preços baixos do álcool, a queda no preço do açúcar faz com que dois terços dos grupos do setor operem no vermelho.
De 64 grupos analisados no fim de 2013 pelo diretor do Itaú BBA Alexandre Figliolino, 39 (61%) operam com deficit e 22 não têm mais condições de recuperação, havendo a necessidade de fusões ou aquisições.

“A crise no setor está disseminada. Os preços estão baixos. É preciso reestruturar as dívidas”, disse o advogado Bruno Oliveira, do escritório Dias Carneiro, que atua na recuperação das usinas.
Desde a eclosão da crise mundial de 2008, 56 usinas de açúcar e álcool pediram recuperação judicial no país, de acordo com o levantamento da MBF.

“O faturamento médio por tonelada de cana só cai desde a safra 2011/12, mas os custos subiram”, diz Elizabeth Farina, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), que representa usinas do centro-sul. “Além disso, houve muitos investimentos e, sem repassar esse aumento, as usinas se endividaram”, conclui.

Tributo
Farina defende a retomada da Cide (contribuição cobrada sobre a gasolina) –em 2012, o governo zerou a taxa com o objetivo de compensar os reajustes do preço do combustível.
Dados analisados por Marcos Antonio Françóia, diretor da MBF, corroboram o índice de endividamento de 60% dos grupos do setor. A situação, diz, perdura há pelo menos três anos.
“As empresas investiram em 2005 e 2006, mas o governo puxou o tapete´. O controle do preço da gasolina enfraquece o mercado.”
As seis usinas que pediram recuperação judicial neste ano pertencem a dois grupos, Aralco e Carolo.
Com uma dívida de R$ 1,5 bilhão, o grupo Aralco administra quatro usinas, todas em São Paulo (Santo Antonio do Aracanguá, General Salgado, Buritama e Araçatuba).
A Carolo chegou a atrasar salários, argumentando que “sofreu forte pressão em seus balanços em razão da situação delicada do mercado”.
Apesar da crise, a Unica não espera redução na produção deste ano. A moagem da safra 2014/2015 deve começar em abril.

 Folha de S. Paulo

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Redação

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