Vantagens e desvantagens da alta prolificidade nos rebanhos

Vantagens e desvantagens da alta prolificidade nos rebanhos

No mês de janeiro, uma cabra da raça Anglo Nubiana, do rebanho da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral, CEC), teve um parto múltiplo de cinco cabritos. Segundo especialistas, a raça é conhecida pela elevada prolificidade (quantidade de cabritos nascidos por cabras paridas), mas um parto quíntuplo é menos comum.

De acordo com o pesquisador Kleibe Moraes, o aparecimento de partos múltiplos em caprinos acontece bastante, principalmente duplos e triplos. “No rebanho de caprinos da raça Moxotó da Embrapa, mais de 55% dos partos são duplos ou triplos. Partos quádruplos e quíntuplos são menos comuns, principalmente quando não há indução de ovulação com monta natural. No rebanho de Anglo Nubiano da Embrapa, raça que apresentou parto quíntuplo, a prolificidade média é de 1,8 cabritos/parto/fêmea”, explica.

Os caprinos são os mais prolíficos entre os ruminantes domesticados e os fatores que interferem na prolificidade desses animais são a raça, idade da matriz, ordem do parto e estado nutricional. Nas raças mais prolíficas o número médio de animais nascidos vivos pode superar 2 cabritos/fêmea/parto. Um caso excepcional é o da raça chinesa Jining Grey goat, em que o número médio de crias chega a 2,94 cabritos/parto/fêmea.

A prolificidade é uma medida importante para determinar a eficiência produtiva e reprodutiva de um rebanho. Dependendo do sistema de produção, prolificidade alta pode ser benéfica. Os benefícios dos partos múltiplos são o aumento da produtividade, diminuição do intervalo de geração e aumento da taxa de desfrute de um rebanho. “Em sistema de produção semi-intensivo ou intensivo, com uso de suplementação, vacinas etc., é altamente desejável.

Porém, em sistema extensivo, em que os animais são criados soltos e com pouco cuidado, alta prolificidade não é desejável, uma vez que a taxa de mortalidade é alta”, afirma o pesquisador. Ele explica que neste caso, é preferível que haja partos simples em que a cria nasça com maior peso e tenha maiores chances de sobrevivência. Além disso, em sistema extensivo, a presença de partos múltiplos gera maiores dificuldades para a matriz amamentar as crias devido à baixa disponibilidade de alimento, principalmente na época seca.

O principal problema  com as crias de parto múltiplo é o peso inferior e a fragilidade destes animais, que terão dificuldade de se alimentar –  podem sofrer competição com as crias maiores – e estarão mais sujeitos a pisoteio e ataques de predadores. Assim, a tendência é maior índice de mortalidade.

Cuidados especiais

As crias de partos múltiplos requerem maiores cuidados, uma vez que nascem com menor peso. Estudo realizado recentemente na Embrapa com os caprinos da raça Moxotó, demonstrou que, em média, as crias de parto duplo e triplo nascem, respectivamente, 15% e 35% mais leves que os de parto simples. Observou-se que parte desta diferença pode perdurar até a idade de abate do animal. Neste caso, é necessário analisar se rebanhos com maior taxa de partos múltiplos são economicamente viáveis, levando-se em consideração maiores taxas de mortalidade, maior tempo para atingir peso para abate ou idade à primeira gestação e os custos com cuidados adicionais com as crias e a matriz, quando comparado com rebanho com maior taxa de partos simples.

Para a mãe são necessários cuidados com a nutrição, fornecendo alimento em quantidade e qualidade, quando os animais se amamentam na fêmea. No caso de partos com mais de três animais, o ideal é a redistribuição das crias com outras fêmeas para que não haja competição entre eles e não sobrecarregue a cabra. Em sistemas de produção intensivos, as crias são amamentadas de forma artificial, sendo separadas das mães após o nascimento. Assim, essas fêmeas requerem apenas os cuidados normais para que tenham uma boa lactação.

Fatores relacionados à prolificidade

Kleibe Moraes afirma que, além da raça, diversos fatores influenciam na prolificidade. “Alguns trabalhos apontam a influência do peso, da idade e da ordem do parto da matriz. Isso quer dizer que fêmeas bem alimentadas (escores de condição corporal entre 3 a 4) têm melhores condições de nutrir os embriões formados. Quanto à idade, fêmeas adultas têm seu aparelho reprodutor fisiologicamente mais amadurecido e, portanto, melhores condições de ovulação e nutrição dos embriões. A ordem de parto também influencia, ou seja, fêmeas que já apresentaram mais de um parto, principalmente as de 3° e 4° parto, têm mais chances de apresentarem partos múltiplos, pelo mesmo motivo: o aparelho reprodutor está melhor desenvolvido”.

Quanto à genética, ainda não se conhece um gene de grande efeito para prolificidade em caprinos, como já é conhecido para a raça ovina. É uma característica que se expressa na mãe, mais é geneticamente passado pelo reprodutor às suas filhas.

Em ovinos já foram identificadas várias mutações em genes relacionados com a fecundidade, conhecidas como mutações Fec. Na raça Australiana Merino, variedade Booroola, foi identificada a mutação FecB;  na raça Romney, variedade Inverdale, foi descoberta a mutação FecX e na raça de ovelhas Cambridge foi descoberta a mutação FecG. Todas essas mutações afetam a taxa de ovulação e prolificidade. A Embrapa mapeou e patenteou a mutação FecGE na raça deslanada Santa Inês.

Devido à similaridade entre os genomas dos ovinos e caprinos, tentou-se averiguar se esses genes de ovinos seriam responsáveis pela prolificidade em caprinos. Entretanto, essa relação ainda não foi confirmada. Estudos na área molecular oferecem a possibilidade de se identificar  genes/marcadores associados a esta característica em caprinos. Uma vez identificada a associação, essa informação poderá ser utilizada nos programas de melhoramento assistidos por marcadores.

 Embrapa

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