Consórcio de forrageira e milho safrinha leva sustentabilidade ao campo

Consórcio de forrageira e milho safrinha leva sustentabilidade ao campo

O manejo de forrageiras é um fator importante no consórcio com o milho safrinha. Os participantes do XII Seminário Nacional de Milho Safrinha puderam assistir à palestra sobre o tema com o pesquisador Emerson Borghi da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO).

Ele explicou como se deve realizar o manejo de acordo com a finalidade do consórcio, quais espécies utilizar de acordo com as características de solo, temperatura (diurna e noturna), precipitação, altitude e histórico de uso da área, entre outros fatores. “Todas estas informações são necessárias para traçar uma estratégia de planejamento, juntamente com o objetivo ao qual o consórcio irá se destinar”, explica Borghi.

Confira a entrevista com o pesquisador Emerson Borghi, que participou do XII Seminário de Milho Safrinha durante o Painel “Milho safrinha em sistemas integrados”, do qual o coordenador foi o professor Luiz Carlos Ferreira de Souza, da UFGD, e o debatedor foi o chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus.

O evento, realizado em Dourados, MS, foi promovido pela Associação Brasileira de Milho e Sorgo, com realização da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) e UFGD.

Embrapa Agropecuária Oeste – Quais são as espécies forrageiras mais indicadas para se utilizar em consórcio com milho safrinha?

Borghi – A depender do propósito, a maioria dos consórcios utilizam os gêneros Brachiaria e Panicum. Entre as espécies, as mais utilizadas são B. brizantha cv. Marandu, B. ruziziensis e P. maximum cv. Mombaça. Outras espécies apresentam grande potencial como B. brizantha cv. Piatã, B. brizantha cv. Paiaguás e P. maximum cv. Massai.

Embrapa Agropecuária Oeste – Quais as finalidades do consórcio de espécies forrageiras com milho safrinha? Pasto e formação de palha?

Borghi – A adoção do cultivo consorciado pode servir para amplos objetivos, tais como: a) servir como alimento para a exploração pecuária no período de outono até o início da primavera, e, posteriormente, para formação de palhada no sistema plantio direto (SPD), e b) servir como planta exclusiva para produção de palhada, proporcionando cobertura permanente do solo até a semeadura da safra de verão subsequente. Há, ainda, a possibilidade de recuperação/renovação de pastagens degradadas. Para o caso do cultivo do milho safrinha com forrageiras tropicais, em virtude do curto período entre a colheita de grãos e a dessecação para a safra seguinte, muitos produtores têm adotado a consorciação para viabilizar a produção de cobertura morta para o SPD.

Embrapa Agropecuária Oeste – Quais as espécies indicadas para cada uma das finalidades?

Borghi – A B. brizantha é excelente forrageira para ser utilizada no sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), visando a formação de pasto e a diversificação da produção. A B. ruziziensis, apesar de apresentar menor produtividade de massa seca em relação à B. brizantha, na ILP destaca-se pela rápida cobertura do solo, boa composição bromatológica, palatabilidade, excelente reciclagem de nutrientes, facilidades na sua dessecação e produção uniforme de sementes, pois só floresce uma vez, enquanto a B. brizantha floresce de forma desuniforme, o que favorece a criação de bancos de sementes no solo, que podem atrapalhar as semeaduras subsequentes. Já as espécies do gênero Panicum, como o P. maximum cv. Mombaça e P. maximum cv. Massai, são excelentes opções para os produtores que necessitam de pastagem para utilização em rotação lavoura-pastagem em anos alternados como, por exemplo, dois anos de lavoura, dois anos de pecuária.

Embrapa Agropecuária Oeste – Quais os benefícios de se utilizar o consórcio?

Borghi – A grande vantagem deste sistema em muitas regiões produtoras do Brasil, validada tanto pelas pesquisas como em muitas áreas produtoras do Brasil Central, é a possibilidade de até duas safras de grãos e mais uma safra de pecuária, garantindo a sustentabilidade tanto da atividade agrícola como da pecuária. Este sinergismo entre os componentes do agroecossistema possibilita a otimização dos recursos naturais, além de possibilitar a diversificação econômica da propriedade, diminuindo os riscos e dificuldades de se trabalhar com apenas uma safra por ano agrícola. Atualmente, a prática do cultivo consorciado é considerada um das melhores alternativas para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas tropicais. Tais aumentos são um resultado da diversidade de produção, melhorando o ambiente de produção pelas alterações provocadas nas características químicas, físicas e biológicas ao longo do tempo de adoção do sistema. Outro grande benefício que o cultivo consorciado proporciona é o incremento de produtividade das culturas ao longo do tempo de adoção do sistema.

Embrapa Agropecuária Oeste – É possível utilizar mais de uma espécie de forrageira em consórcio com o milho? Se sim, quais as vantagens?

Borghi – Existem alguns experimentos sendo realizados em algumas regiões e instituições que já avaliaram consórcios com duas espécies (uma gramínea e uma leguminosa) concomitantemente ao milho safrinha. Em Ipameri/GO, o consórcio de milho safrinha com B. brizantha cv. Marandu e Guandu tem demonstrado resultados bastante promissores na produção de forragem com maior qualidade, pois a leguminosa tem a função de incrementar os teores de proteína bruta, sem comprometimento à produção de grãos no milho. Porém, há ainda necessidade de maiores estudos e pesquisas nas mais diferentes condições brasileiras, para que esta tecnologia possa ser recomendada seguindo os objetivos aos quais os produtores buscarão nos diferentes sistemas produtivos no Brasil.

Embrapa Agropecuária Oeste – Existem forrageiras mais apropriadas de acordo com a região brasileira?

Borghi – Sim. Basicamente, a recomendação da implantação de uma espécie em consórcio com o milho safrinha segue a mesma recomendação do cultivo desta mesma espécie em cultivo exclusivo. No caso de espécies forrageiras, a escolha deve levar em consideração a região e as características de solo, temperatura (diurna e noturna), precipitação, altitude e histórico de uso da área pois, além destas informações, as espécies forrageiras são diferentes também quanto à exigência em fertilidade e, consequentemente, na necessidade de nutrientes. Todas estas informações são necessárias para traçar uma estratégia de planejamento, juntamente com o objetivo ao qual o consórcio irá se destinar.

Embrapa Agropecuária Oeste – Como é realizado o manejo de espécies forrageiras em consórcio? Existe diferença do manejo em consórcio e quando há somente forrageira no campo?

Borghi – A depender da época de consorciação com o milho safrinha, o desenvolvimento da forrageira pode ou não ocasionar em redução na produtividade de grãos da cultura granífera. Vários trabalhos de pesquisa já demonstraram que a aplicação de 20% da dose de herbicidas a base de nicosulfuron, de forma a retardar o desenvolvimento da forrageira, diminuindo a competição entre esta e a cultura do
milho. Outros trabalhos desenvolvidos em outras regiões produtoras do Brasil concluíram que o uso de atrazine e mesotrione não ocasionaram em comprometimento no desenvolvimento da forrageira, resultando em maior rendimento de massa durante e após a colheita do milho, constituindo alternativa para utilização no cultivo consorciado, tendo em vista a produção de grãos e palha para o SPD.

No caso do cultivo exclusivo da forrageira, o principal manejo é com as plantas invasoras e, para isso,existem herbicidas exclusivos para a realização desta prática cultural. Por fim, tanto no consórcio quanto no cultivo exclusivo, a recomendação é de que o produtor busque sempre a orientação de um profissional especializado da área para que possa ser efetuado o manejo correto.

Embrapa Agropecuária Oeste
 – Qual método mais adequado para implantação do consórcio?

Borghi – O método mais adequado vai depender do objetivo ao qual o produtor irá utilizar a forrageira. Dentre as várias formas de estabelecimento do consórcio, as mais utilizadas são: a) semeadura da forrageira simultaneamente com a cultura produtora de grãos, a) na mesma linha de semeadura; b) na entrelinha; c) semeadura da forrageira no momento da adubação de cobertura. Para cada caso, existem hoje recomendações para o manejo correto e, por isso, o produtor ou pecuarista deve sempre procurar orientação técnica para que possa implantar a forrageira de acordo com suas necessidades e propósitos.

Embrapa Agropecuária Oeste
 – Como deve ser realizada a dessecação das forrageiras?

Borghi – O manejo correto das plantas de cobertura com herbicidas pode influenciar na disponibilidade de nutrientes em decorrência da degradação deste material vegetal e, em espécies com elevada relação C/N – como são os casos das espécies de Panicum e Brachiaria – pode ocorrer maior persistência da palha e menor liberação de substâncias alelopáticas para o solo. Alguns trabalhos de pesquisa constataram que a dessecação de P. maximum e de B. brizantha próximo à época de semeadura da soja causa dano significativo na produtividade da cultura produtora de grãos. Por ser uma espécie perene, a braquiária continua produzindo massa após a colheita do milho safrinha. Com maior disponibilidade de chuvas e altas temperaturas em setembro/outubro, a forrageira intensifica seu crescimento nesse período. Assim, quanto maior o tempo entre dessecação e semeadura, melhor será a condição para cultivo da cultura em sucessão, tornando-se mais um desafio no sentido de obter os melhores resultados em sistemas integrados.

Fonte: Embrapa

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Edivaldo Junior

Edivaldo Junior

Edivaldo Junior é jornalista, colunista da Gazeta de Alagoas e editor do caderno Gazeta Rural

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